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Associação para a Partilha do Conhecimento

Saiba o que procuram as empresas nos licenciados

Os empregadores querem cada vez mais jovens com aprendizagens extra-curriculares como Erasmus, Interrail, estágios, voluntariado e até desporto.


Com o volume de currículos que cada empresa recebe diariamente, é natural que, com o passar do tempo, comecem todos a parecer iguais. Uma diferença de 0,4 valores na média final de curso já há muito deixou de ser o único factor de comparação na escolha dos candidatos que têm valor para subir na carreira profissional. Mais do que apenas as suas competências técnicas, os responsáveis das empresas querem saber quem os seus candidatos são. Assim, factos aparentemente acessórios como praticar um desporto, participar em acções de voluntariado ou simplesmente viajar, são elementos cada vez mais decisivos na entrada no mercado de trabalho.


Para este efeito, as universidades portuguesas têm trabalhado no sentido de ajudar os seus alunos a desenvolver e mostrar ao mundo empresarial as suas soft skills, aquilo que os distingue. Este esforço é feito através de eventos como "O Lado B da Força", organizado no âmbito do Magellan MBA da EGP-UPBS, que consistiu numa cerimónia de apresentação das paixões e competências pessoais dos talentos do programa a cerca de 150 empresas. "Cada vez mais as empresas procuram ver e conhecer a pessoa como um todo e explorar o que é que a diferencia e o que é que pode criar valor para a organização", explica Paula Rodrigues, responsável pelos serviços de gestão de carreira da escola de negócios da Universidade do Porto. "Numa era em que o conhecimento já não é diferenciador, é determinante desenvolver competências de inovação, de empreendedorismo, de relacionamento, de gestão da mudança, competências que criem valor".


E não são só as universidades a ganhar consciência da importância destas iniciativas. "A adesão dos alunos e a sua procura por este tipo de experiências é muito elevada", revela Rita Paiva e Pona, responsável do departamento de carreiras da Católica-Lisbon School of Business & Economics, que aposta regularmente em acções de voluntariado nacionais e internacionais, actividades desportivas e viagens ao estrangeiro para conhecer a realidade global do mundo dos negócios. "Em regra, um aluno da Católica-Lisbon entra no mercado de trabalho apresentando um perfil competitivo, que reúne em média duas experiências profissionais aliadas a actividades extra-curriculares".


Este trabalho acaba por ter claros efeitos nas escolhas de empresas como a Unicer. "Se estivermos perante candidatos do leque de universidades preferenciais, com médias iguais ou muito próximas, os factores extra-curriculares assumem um carácter diferenciador", afirma Joana Queiroz Ribeiro. A directora de comunicação e pessoas da cervejeira considera que estas actividades "revelam-nos mais sobre as pessoas. São pistas importantes para percebermos se estamos perante pessoas com iniciativa e responsabilidade, capazes de ultrapassar obstáculos".


Uma das qualidades mais apreciadas num candidato é a experiência internacional, a vontade de conhecer o mundo para além das fronteiras de Portugal. Neste sentido, o ISCTE-IUL tem apostado em desenvolver protocolos com universidades congéneres de todo o mundo, participando em redes e programas de mobilidade internacional e oferecendo duplos graus e programas conjuntos na África, Ásia e América. "O conhecimento de outras línguas e culturas é mais do que nunca indispensável para todos os que pretendem desenvolver uma carreira profissional enriquecedora", comenta um responsável da universidade.


De facto, acabam por ser as próprias empresas a comprovar o quanto valorizam esta experiência. Para Gonçalo Simões, partner da Deloitte, um jovem que tenha participado no programa Erasmus ou num grupo de voluntariado em África terá certamente uma melhor capacidade de adaptação a novos ambientes. "Existe uma componente na nossa actividade, que tem cada vez mais importância, que passa pela necessidade de interacção com a rede Deloitte no mundo, a capacidade de criar uma rede de contactos e de conhecimentos dentro e fora do país", salienta o responsável da consultora.


Mais do que iniciativas específicas para compor um currículo e impressionar os empregadores, do que se fala aqui é de educar melhores e mais completos futuros profissionais. "Consideramos de extrema importância que os nossos futuros economistas ou gestores, mais do que o conhecimento empírico, tenham uma forte percepção da realidade social e empresarial que os rodeia, como forma de conciliarem as questões teóricas com um profundo conhecimento prático da sociedade global", aponta Daniel Traça, sub-director de programas pré-experiência da Nova School of Business & Economics, que conta com programas como o "Nova Cidadania", que se destina a dar uma formação integral a nível de voluntariado e acções de cidadania.


É esse também um dos principais focos da acção formativa do ISEG, através de vários eventos, palestras e workshops dedicados a temas como a sustentabilidade, a ética ou a cidadania.

"Num início de carreira, os currículos são basicamente similares. A diferença são os interesses que os jovens manifestam a outros níveis, quer culturais, desportivos ou de solidariedade", defende Filomena Ferreira, assessora da presidência da instituição. "Mostra um jovem que se envolve com o mundo real, que se valorizou academicamente mas que não deixou de aproveitar outras oportunidades de crescimento pessoal".


Dito tudo isto, quão importante continua a ser o aproveitamento académico? Apesar de tudo, bastante ainda. "As notas curriculares não são o mais importante, mas são importantes porque servem de primeira triagem", explica Marta Maia, directora de recursos humanos da Jerónimo Martins. "Interessa-nos a atitude, comportamento, grau de empreendedorismo. Temos de tentar descobrir nesta nova geração uma certa consciência cívica e uma consciência social muito grande, abertura ao mundo. O nosso negócio, mais do que de tecnologia, depende de pessoas. Os conhecimentos técnicos adquirem-nos cá dentro".


Características procuradas


Unicer

"As actividades extra-curriculares são importantes porque revelam muito sobre o perfil comportamental dos candidatos, essencial para o sucesso pessoal e profissional das pessoas nas organizações", diz Joana Queiroz Ribeiro, directora de comunicação e pessoas do Grupo Unicer. A Unicer dá importância ao perfil dos licenciados. "O "Lado B" dos candidatos dá-nos informação riquíssima sobre o seu perfil soft", explica Joana Queiroz Ribeiro. Alguns exemplos são "a participação em projectos internacionais (sejam de voluntariado ou de estágio), a prática regular de um desporto, a conciliação da vida académica com hobbies ou a pertença a grupos e associações".


Deloitte

"Através da formação curricular e extra-curricular podem diversificar-se skills como a capacidade de adaptação a novos ambientes e a diferentes pessoas, o que pode ser importante num trabalho que exija o contacto com outras realidades e clientes distintos", revela Gonçalo Simões, partner da Deloitte. A empresa quer jovens que tenham conhecido pessoas e ambientes diferentes e Gonçalo Simões lembra que, "para alguns, passa muito por encontrar iniciativas ou organizações onde possam ter um papel activo". Embora o mais valorizado pela Deloitte seja "uma performance académica de excelência", também contam "a pró-actividade, a capacidade de aprendizagem constante, um forte espírito de equipa, a persistência e o pragmatismo".


Jerónimo Martins

"As notas curriculares não são o mais importante, embora importem na medida em que servem de primeira triagem", admite Marta Maia, directora de recursos humanos da Jerónimo Martins. A empresa valoriza nos candidatos características como atitude, comportamento, grau de empreendedorismo e humildade. "E há uma coisa que procuramos muito: temos de tentar descobrir nesta nova geração uma consciência cívica e social muito grande e abertura ao mundo. Porque, ao contrário doutro tipo de empresa, trabalhamos com muitas pessoas. O nosso negócio, mais do que depender da tecnologia, depende de pessoas. Os conhecimentos técnicos adquirem-nos depois cá dentro", adianta a mesma responsável.


Artigo de Pedro Quedas in "Diário Económico"/Ensino, edição de 27 de Abril de 2011







Autor: Pedro Quedas, 27 de Abril de 2011
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